COMO PREPARAR O ESTADO PARA TRANSFORMAÇÕES GLOBAIS: Uma Perspectiva de Integração Regional - Yehezkel Dror

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Todos os Estados se defrontam com inovações radicais na dinâmica externa e interna, como uma das principais características do século XXI. Mudanças demográficas, de valores ou na ciência e tecnologia servem como impulsionadores profundos de um novo futuro cujas características não são apenas incertas, mas em grande parte, inconcebíveis. Seja porque o nascimento de um mundo diferente é percebido mais como uma ameaça do que como uma oportunidade, os Estados não têm outra opção a não enfrentar problemas que se apresentam de novas formas e para os quais não existem soluções preconcebidas. Mas  há mais em jogo: não  se trata apenas  de "enfrentar os problemas", mas de melhorar as capacidades dos Estados de exercer uma influência ativa sobre o futuro, conduzindo as sociedades a fim de reduzir a probabilidade do "ruim", aumentando a probabilidade do "bom", à medida que mudam ao longo do tempo, enquanto enfrentam com as  incertezas e com o inconcebível. Em outras palavras, o que é realmente necessário é um "estado original", que se ajuste rapidamente às mudanças das realidades mutantes.

 Essa necessidade é ainda mais aguda na América Latina que, apesar de alguns sinais promissores, é, em termos gerais, uma "grande desilusão". Melhorar as capacidades para governar é, portanto, um imperativo, ainda que não exclusivo, da América Latina.

 Não é à toa que os Estados preferem atribuir as tarefas principais a outros processos sociais, em particular ao mercado. É verdade que os mercados são economicamente ótimos para lidar com algumas características de situações mutantes graças à multiplicidade de atores que, em seu conjunto, têm altas habilidades cognitivas combinadas com uma rápida retroalimentação que elimina muitos daqueles que não conseguem se adaptar a um novo entorno. Mas os mercados só podem funcionar em determinados espaços. O manejo de entornos mutantes pelos mercados, que certamente caracterizará o século XXI, implicará em altos custos sociais, como a escalada do desemprego. O pior de tudo isso, é que da perspectiva dos valores democráticos, os governos eleitos que dependam demais dos mercados desregulamentados, abdicam de seus poderes e responsabilidades, para outros atores e processos que não são democraticamente responsáveis.

 Daí a necessidade de melhorar as capacidades estatais. Essa necessidade é bem ilustrada pelas exigências do enfrentamento com entornos cambiantes.  Há, em princípio, quatro estratégias "puras" para enfrentar as realidades cambiantes: o ajuste prévio, que requer a predição das realidades que virão e os passos para se adaptar a elas com antecedência; o ajuste posterior, que engloba o diagnóstico correto da dinâmica de mudança que está ocorrendo e o desenho de políticas para garantir o ajuste antes que os atrasos causem custos sociais muito elevados; os esforços para influenciar e regular as realidades cambiantes, de maneira a prevenir as mudanças que são difíceis de enfrentar; e o isolamento, que envolve esforços para erguer uma membrana em torno de sua própria sociedade, a fim de reduzir a sensibilidade às mudanças externas.

 


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